PORTUGUÊS

2 comentários:

  1. Devido ao facto de surgir numa época muito conturbada, o Neoclassicismo em Portugal desenvolve-se de modo muito próprio, debatendo-se com problemas de ordem artística e económica, impondo uma periodização diferente do resto da Europa. Assiste-se muito cedo ao desenvolvimento de uma arquitectura pré-clássica, que permanece durante todo o final do século XVIII. Na segunda metade do século, um pouco mais tarde que no resto da Europa, surge, principalmente em Lisboa e Porto, o Neoclassicismo, para, no início do século XIX, se assistir a uma quase paragem dos programas artísticos. Este facto deve-se à grande instabilidade provocada por uma sucessão de acontecimentos avassaladores para o país, nomeadamente a fuga da família real para o Brasil em 1807 (facto de importância fundamental para os dois países), invasões francesas, posterior/consequente domínio inglês, revolução liberal em 1820, regresso da família real em 1821, independência do Brasil e a perda do comércio colonial em 1822. Pouco depois ocorre a contra revolução absolutista, originando as guerras liberais, o que mantém a instabilidade até 1834, permitindo o normal desenvolvimento artístico e económico apenas quase a meio do século. Em face do exposto não é de admirar que o estilo permaneça, a par do Romantismo, até ao início do século XX.

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  2. A Nosso Senhor Jesus Christo com actos de arrependimento e suspiros de amor
    Ofendi-vos, Meu Deus, bem é verdade,
    É verdade, meu Deus, que hei delinqüido,
    Delinqüido vos tenho, e ofendido,
    Ofendido vos tem minha maldade.

    Maldade, que encaminha à vaidade,
    Vaidade, que todo me há vencido;
    Vencido quero ver-me, e arrependido,
    Arrependido a tanta enormidade.

    Arrependido estou de coração,
    De coração vos busco, dai-me os braços,
    Abraços, que me rendem vossa luz.

    Luz, que claro me mostra a salvação,
    A salvação pertendo em tais abraços,
    Misericórdia, Amor, Jesus, Jesus.

    A Jesus Cristo Nosso Senhor
    Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
    Da vossa piedade me despido,
    Porque quanto mais tenho delinqüido,
    Vos tenho a perdoar mais empenhado.

    Se basta a vos irar tanto um pecado,
    A abrandar-nos sobeja um só gemido,
    Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
    Vos tem para o perdão lisonjeado.

    Se uma ovelha perdida, e já cobrada
    Glória tal, e prazer tão repentino
    vos deu, como afirmais na Sacra História:

    Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada
    Cobrai-a, e não queirais, Pastor divino,
    Perder na vossa ovelha a vossa glória.


    Inconstância dos bens do mundo
    Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
    Depois da Luz se segue a noite escura,
    Em tristes sombras morre a formosura,
    Em contínuas tristezas a alegria.

    Porém se acaba o Sol, por que nascia?
    Se formosa a Luz é, por que não dura?
    Como a beleza assim se transfigura?
    Como o gosto da pena assim se fia?

    Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
    Na formosura não se dê constância,
    E na alegria sinta-se tristeza.

    Começa o mundo enfim pela ignorância,
    E tem qualquer dos bens por natureza
    A firmeza somente na inconstância.

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